sexta-feira, 8 de outubro de 2010

'Demitida do Estadão por delito de opinião' acerta 76ª


Atualizado às 17h27 - 08/10
A articulista Maria Rita Kehl foi demitida pelo Jornal O Estado de S. Paulo depois de ter escrito(02/10) artigo sobre a "desqualificação" dos votos dos pobres. A notícia(07/10) produzida por Bob Fernandes (Blog Terra Magazine) e disponibilizada no portal do Terra, acertou na mosca o alvo da 76ª semana do Target NewsWeek, game de análise de notícias que classifica as cinco (se houver)que fizeram a diferença ao longo da semana. O texto, intitulado "Dois pesos...", gerou grande repercussão na internet e mídias sociais nos últimos dias, e acabou na demissão de Maria Rita Kehl por aquilo que pode ser qualificado por delito de opinião, ou eufemismo de opressão da liberdade de imprensa e liberdade de expressão. Estranho porque trata-se do jornal Estadão, que por está há mais de 400 dias sob censura judicial. O que agrava ainda mais a situação é que não se trata se um fato isolado de cerceamento da liberdade de opinião. Afinal, a Falha de S.Paulo, um site que satiriza os erros cometidos pela Folha de S. Paulo, só voltou a funcionar graças ao uso de um endereço alternativo hospedado nos Estados Unidos, numa tentativa de driblar a liminar conseguida pela Folha que havia tirado o site do ar. Para completar a dura realidade vivida dentro das redações de jornais brasileiros, o diário espanhol El Pais foi vendido para um grupo de investidores americanos por conta de uma dívida de quase 5 bilhões de euros.

Maria Rita Kehl responde ao bloqueiro Bob Fernandes- "Fui demitida pelo jornal o Estado de S. Paulo pelo que consideraram um "delito" de opinião (...) Como é que um jornal que anuncia estar sob censura, pode demitir alguém só porque a opinião da pessoa é diferente da sua? O argumento é que eles estavam examinando o comportamento, as reações ao que escrevi e escrevia, e que, por causa da repercussão (na internet), a situação se tornou intolerável, insustentável, não me lembro bem que expressão usaram (...) Acho que o presidente Lula e seus ministros cometem um erro estratégico quando criticam, quando se queixam da imprensa, da mídia, um erro porque isso, nesse ambiente eleitoral pode soar autoritário, mas eu não conheço nenhuma medida, nenhuma ação concreta, nunca ouvi falar de nenhuma ação concreta para cercear a imprensa. Não me refiro a debates, frases soltas, falo em ação concreta, concretizada. Não conheço nenhuma, e, por outro lado (...) A imprensa que tem seus interesses econômicos, partidários, demite alguém, demite a mim, pelo que considera um "delito" de opinião. Acho absurdo, não concordo, que o dono do Maranhão (senador José Sarney) consiga impor a medida que impôs ao jornal O Estado de S.Paulo, mas como pode esse mesmo jornal demitir alguém apenas porque expôs uma opinião? Como é que um jornal que está, que anuncia estar sob censura, pode demitir alguém só porque a opinião da pessoa é diferente da sua? (...) Isso se agravou com a eleição, pois, pelo que eles me alegaram agora, já havia descontentamento com minhas análises, minhas opiniões políticas".

Causas e consequências da notícia A notícia revela que a imprensa democrática livre no Brasil e no resto do mundo passa por um grande momento de crise institucional, achacada por diversos problemas de ordem econômica, política e de sua própria narrativa. Se de um lado os nada inocentes bloqueiros e twiteiros tomam o espaço do jornalista profissional, de outro os interesses políticos e econômicos minam as bases intitucionais das empresas jornalísticas. A demissão de uma profissional de imprensa por conta de sua opinião é apenas a ponta do iceberg de uma profissão em crise. Com ou sem diploma de jornalista, o profissional por traz das cortinas da liturgia das praxis que envolvem o ofício perde a cada dia a sua áurea de único mediador. O que vale dizer que qualquer um se acha apto a 'fuzilar' em praça pública aquele que ousa mediar a babel da multimediação de informação. Maria Rita Kehl foi a vítima de ontem, quem será a de amanhã? Seja como for, dia 2 de outubro de 2010, data da injusta demissão de Kehl, entra para história como o fim melancólico da imprensa livre, muito distante do que gostariamos que fosse...

Leia íntegra do artigo!

Reveja agora as outras notícias que acertaram o alvo na última semana:

Dados de dirigente tucano foram irregularmente acessados por petista

Golpe de páginas falsas de bancos mais que dobra no 3º trimestre

Desvendando mitos e verdades sobre a carreira no setor público

Entendendo diferença entre ser popular e ser influente em redes

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