
A Rede Globo transformou a tragédia de Angra dos Reis em cobertura de uma personagem só. Usaram a jovem Yumi Faraci como única personagem de uma desastre que envolveu centenas de vítimas, porque não dizer de milhares. A notícia (04/01), produzida pelos repórteres da TV Globo, acertou na mosca o alvo da 37ª semana do Target NewsWeek, game de análise de notícias que classifica as cinco que fizeram a diferença ao longo da semana. Para ilustrar a narrativa jornalística, o uso de personagens únicos é bastante comum, como ocorre nas reportagens esportivas. A intenção é aumentar o poder de monetização da matéria, buscando colocar no centro da notícia aquele personagem de destaque. Afinal, como diz Cremilda Medina, "a notícia é um produto à venda". Mas não deveria! Contudo, em certos casos, a individualização do personagem não é aconselhável a bem do jornalismo que busca a informação que faz realmente a diferença. Do contrário, a reportagem perde totalmente o seu conteúdo jornalístico e cai na seara do voyuerismo barato, quando não no escândalo das velhas fofocas de vizinhos. Ora, no caso da cobertura da tragédia de Angra dos Reis, a Rede Globo preferiu cair na tentação do reducionismo engendrado no personagem único. Assim deixou de lado a sua responsabilidade social de fazer uma cobertura plural e sem discriminar de forma nada enviesada pobres e ricos. Foi assim também na cobertura do vestibular da Fuvest no último domingo. A emissora preferiu centrar a cobertura na reação 'desesperada' de uma mãe ao saber que o filho perdera a prova por ter chegado atrasado. Claro, esse procedimento também é padrão nas demais emissoras de TV, assim como pela maioria da imprensa. Em certas coberturas, essa regra revela o poder de massacre da imprensa em relação aos personagens ilustrados na reportagem. Além de desproporcional, essa forma de cobertura é desumana! Desde a Lei Seca, um caso comum tem sido dar destaque aos infratores (vítimas do behaviorismo alcoólico alimentado pelo próprio Estado), quando a Constituição Federal prevê a proteção da imagem de acusados de crimes até que sejam julgados e condenados. Geralmente, a informação que interessa está na diversidade emulada pelas notícias, e não o contrário. No limiar de uma nova década, é um erro alimentar esse vale-tudo pela monetização inescrupulosa da notícia. Por quê? Primeiro, evitar que a notícia morra do seu próprio veneno... segundo, porque o ser humano já anda muito oprimido e acuado diante das próprias circunstâncias da vida!
Reveja agora as outras notícias que acertaram o alvo na última semana:
2º Cabral deu aval para construção de imóveis em encostas
3º Cidades da Serra do Mar desconhecem carta geotécnica
4º Notícias sobre mensalão do DEM somem do site da OAB-DF
5º Previsão do Tempo no Brasil fica refém da meteorologia dos EUA
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